
Decisão tomada! Quem busca investir em renda fixa, em geral, está mais preocupado proteger o seu patrimônio do que obter rentabilidades, e espera obter ganhos compatíveis com os riscos assumidos. Ou seja, é a máxima do mercado financeiro: quando se assume menores riscos, a tendência é obter menores retornos (rentabilidades).
Essa é a sexta publicação da série em que abordamos tomadas de decisões que resultam em perdas financeiras. Se você ainda não leu as outras publicações anteriores, pode começar lendo a 1º parte clicando aqui. Ao final de cada publicação tem o link para a próxima e então, você chegará até aqui de novo, se seguir a série…
Preste bem atenção no título desta publicação. Você não leu errado…
Talvez seja surpresa para você que não está familiarizado com investimentos. Não são apenas ações, criptomoedas, câmbio, derivativos etc que podem trazer rentabilidades negativas. A renda fixa pode sim frustrar pessoas que ao investir nesses produtos, esperam apenas ver o seu patrimônio aumentando, mesmo que apenas nominalmente, ou seja, investir por exemplo R$ 1.000,00 e resgatar R$ 1.010,00 (ou qualquer valor maior que o investido em qualquer momento futuro), já descontando os impostos, quando aplicáveis.
Escolhemos abordar um investimento que cresceu demais no país, à medida que o pequeno investidor passou a ter direito a investir e a divulgação tornou-se mais abrangente, principalmente depois da força que as redes sociais exercem sobre a sociedade. Estamos falando do TESOURO DIRETO.
Se você já ouviu falar sobre Tesouro Direto e espera aprender nessa publicação como fazer seu primeiro investimento, temos a dizer que esta não é a publicação que você vai ler aqui nesse momento. Vamos ensinar a você, de forma bem didática, ou seja, “pra qualquer pessoa” entender, independentemente de seu conhecimento prévio de investimentos, a não cometer erros ao investir no Tesouro IPCA+
A partir de agora, pedimos que você considere a seguinte situação vivida por Antonio, um advogado que é uma pessoa com perfil conservador, ou seja, não tem interesse em investimentos voláteis e de riscos:
- Antonio já está inscrito em uma corretora de valores;
- Antonio tem no mínimo R$ 30,00 para investir, depositados nesta corretora;
- Antonio deseja um investimento em Renda Fixa que seja indexado à inflação (IPCA);
- Antonio foi influenciado a investir no Tesouro Direto, depois de se inscrever e assistir alguns canais de videos em redes sociais sobre esse tipo de investimento.
EMPRESTANDO DINHEIRO PARA O GOVERNO
Sim. Isso mesmo que você acabou de ler. Antonio está prestes a emprestar dinheiro ao Governo e será remunerado por isso! É um investimento seguro, não se cogita risco de “calote”. É assim que funciona. Investir no Tesouro Direto, não importa qual seja o título escolhido, implica em receber juros pelo dinheiro que será disponibilizado.
Se pararmos para pensar, o conceito de juros é justamente o custo do dinheiro no tempo. Quando uma pessoa solicita um empréstimo no banco ela paga um “aluguel” por aquele dinheiro que não é dela. Simplesmente juros! Claro que depende do valor, da instituição, do perfil de quem solicita o empréstimo, do modelo de empréstimo (consignado, CDC, crédito especial, crédito pessoal).
Porém, no caso que estamos estudando, é o investidor que dispõe de um valor e quer ser remunerado por deixar esse dinheiro em posse de outros. Futuramente vamos abordar melhor esse assunto. Talvez você fique surpreso se souber que é possível emprestar dinheiro para bancos, empresas. Mas, vamos deixar isso para outra publicação, ok?
Agora vamos apresentar, de forma muito rápida, quais produtos Antonio consegue investir hoje, em agosto/2021
Ao visitar a página do Tesouro Direto ele descobre que existem 4 opções que se encaixam no que ele pretende:
- Tesouro IPCA+ 2026 – Rentabilidade IPCA + 4,32% a.a.)
- Tesouro IPCA+ 2035 – Rentabilidade IPCA + 4,52% a.a.)
- Tesouro IPCA+ 2045 – Rentabilidade IPCA + 4,52% a.a.)
- Tesouro IPCA+ 2055 (com juros semestrais) – Rentabilidade IPCA + 4,71% a.a.
O que tem em comum?
- São oferecidos pelo Governo (Tesouro Nacional)
- Garantem* uma rentabilidade anual acima da inflação (IPCA) durante todo o período;
- Os 3 primeiros pagarão o valor investido, acrescido dos juros e índice de inflação ao final do prazo (Ano 2026, Ano 2035 e Ano 2045);
- São investimentos tributáveis, cujo imposto é retido na Fonte, automaticamente;
- A qualquer momento o investidor pode resgatar sua aplicação, sem carência.
* A garantia se dá somente quando o investidor mantém o valor investido até o último ano.
Em que eles diferem?
- O número de anos em que os títulos vão remunerar o investimento;
- O Tesouro IPCA+ 2055 paga os juros semestralmente, qo contrário dos demais. Ou seja, parte do investimento retorna para o investidor ao longo do tempo;
- As rentabilidades podem ser diferentes (quanto maior o prazo, maior tende a ser a rentabilidade);
Portanto, ao analisar essas opções, Antonio resolve investir no Tesouro IPCA+ 2035, porque ele entende que a rentabilidade anual é bem adequada, superior à poupança, pois a previsão de inflação não é tão baixa assim e ainda tem a segurança de proteger seu patrimônio de perder seu poder de compra.
Então, satisfeito com os números apresentados, realiza o investimento (diretamente na plataforma da sua corretora ou no site do Tesouro Direto, não faz diferença!). Compra de título efetuada com sucesso!
E, somente 6 meses depois, Antonio resolve consultar seu saldo. Não que tivesse interesse em resgatar, mas para ter o gostinho de ver seu patrimônio crescendo, agora em um investimento muito seguro e com “fama” de ser um excelente investimento. Ao olhar a plataforma da sua corretora, Antonio leva um susto: Seu investimento está 5% menor.
Olhando para os números, surgem ao mesmo tempo inúmeras perguntas:
- E a minha rentabilidade garantida?
- E a inflação? Nem a inflação eu recebi?
- Qual foi o erro da minha escolha?
- O que eu não prestei atenção nos vídeos que assisti?
Antonio entra em contato com o chat da sua corretora e recebe respostas assim:
- “É normal”;
- “Os títulos são marcados a mercado“;
- “A partir de agora seu título vai render mais porque a taxa de juros subiu”;
Para cada resposta que ele lê, sua cabeça formula novas perguntas:

- “Normal perder dinheiro em renda fixa? Desde quando?”
- “Marcação de qual mercado?”
- “Taxa de juros subiu como? Não era uma taxa fixa até 2035?”
O atendente ainda se esforça para ajudar, explicar um pouco. Mas, na verdade, Antonio está sem cabeça para entender mais nada. Sentindo-se enganado e com medo de perder ainda mais dinheiro e, pra piorar, sem tempo para continuar recebendo explicações, a situação para ele parece um verdadeiro filme de terror. Afinal, em 6 meses Antonio perdeu praticamente o que esperava ganhar em 1 ano, somado com a inflação.
Nessa hora, como ele já não conseguia ler mais nada, não conseguia mais raciocinar direito, Antonio só queria se ver livre dessa angústia.
A verdade é apenas uma… NINGUÉM GOSTA DE PERDER DINHEIRO!
A DECISÃO EQUIVOCADA
Minutos após encerrar o chat, Antonio solicita o resgate e forma sua opinião… “Investimento do Governo não pode nunca ser favorável ao cidadão”. E ainda se pergunta: “Como eu fui cair numa dessas?”
No dia seguinte ele liga para seu gerente do banco, revela que fez um investimento que deu errado e pede uma sugestão que possa ajudá-lo. Ele deseja uma proposta para fazer investimentos, dessa vez certeiros e acaba sendo facilmente convencido a fazer aplicações mais interessantes (para o gerente bater suas metas) e nem se dá conta disso. São PGBLs, VGBLs, títulos de capitalização, CDBs com taxas elevadas de administração que trazem a falsa sensação que novamente está fazendo investimentos com baixo risco para perdas.
A EXPLICAÇÃO

Certamente há uma razão para tudo que aconteceu no investimento feito por Antonio.
Em primeiro lugar, é necessário que se informe que o investimento inicial de Antonio foi absolutamente normal, sem equívocos. Quando Antonio consultou o saldo de suas aplicações, 6 meses depois, ele não reparou que aquele mesmo título estava disponível para venda no site com uma taxa de juros maior da que ele tinha contratado.
Isso acontece porque os títulos são precificados diariamente, a todo momento, conforme o mercado determina. Quando as taxas de juros dos títulos sobem ou diminuem, o valor do título se modifica automaticamente.
Para que você entenda o que significa, imagine o Antonio que há 6 meses comprou exatamente a quantidade de 1 título público. Na prática, o que ele adquiriu?
Ele tinha em mãos um DIREITO de receber uma remuneração fixa (4,72% a.a. + IPCA) de agosto/21 até 2035. Porém, 6 meses depois, o mesmo título (Tesouro IPCA+ 2035) está sendo vendido no mercado com uma oferta de taxa de juros diferente… agora o título está rendendo 4,92% a.a. + IPCA.
Então, imagine que você esteja interessado(a) em comprar o Tesouro IPCA+ 2035 agora, com essa “nova” taxa. Temos a seguinte situação:
- Antonio possui esse título, que promete render 4,72% até 2035. (Está assegurado e essa taxa é imutável).
- O site do Tesouro Direto oferece o mesmo título com taxa de 4,92% até 2035.
Responda a seguinte pergunta:
Se você pudesse escolher entre comprar do Antonio ou comprar do Tesouro Direto esse mesmo TÍTULO, ou seja, o direito de receber uma rentabilidade fixa + inflação por um período (até 2035), de quem você compraria?
Ora, sabendo que são exatamente o mesmo título, porém com garantias diferentes, você optaria pelo título que oferece maior rentabilidade. Em outras palavras, você acabou de precificar o título do Antonio com um “preço inferior” ao outro título oferecido pelo Governo.
Este é o conceito de “marcação a mercado”. Um título tem seu valor modificado diversas vezes entre a data em que ele é adquirido até a data de seu vencimento.
E isso quer dizer que Antonio poderia não ter esse “prejuízo”?
Com certeza SIM. E, para que isso ocorresse, Antonio teria duas opções:
- Aguardar até 2035 e resgatar o seu investimento com a taxa contratada (afinal, era esse seu objetivo inicial).
- Aguardar a queda da taxa de juros (que oscila conforme o mercado e a economia do país) para um patamar abaixo da taxa que ele tinha contratado (4,72%), até que sua rentabilidade fosse satisfatória.
Em outras palavras, Antonio poderia “escolher” o melhor momento para resgatar sua aplicação, levando em consideração que ele tinha a seu favor uma taxa mínima contratada, garantida e muitos anos para esperar uma eventual queda da taxa de juros. (Quanto maior a queda, maior tende a ser a rentabilidade).
Antonio poderia ter a agradável surpresa de ver na primeira vez que consultou seu saldo, que a rentabilidade estava positiva em 5%, ou qualquer outro valor acima.
CONCLUSÃO
Ao optar por investir nesses títulos, tenha em mente que a rentabilidade que você está contratando deve atender às suas expectativas. Esse é um investimento projetado para ser realizado por muitos anos. Nada impede que você opte por vender antes do prazo contratado, porém, saiba que na hora da venda (resgate) ele estará valendo o valor precificado de acordo com as condições do momento no mercado.
Isso significa que poderá ser uma oportunidade para imensos ganhos financeiros se você souber esperar. O histórico de rentabilidade dos títulos públicos, como o que citamos acima impressiona a todos que começam a pesquisar sobre esse tipo de investimentos.
Na prática, quando se aprende essa lógica, o investidor quando tem títulos comprados e deseja vender antes do vencimento, de certa forma “torce” para que as taxas de juros caiam. Por outro lado, caso as taxas de juros subam, embora a rentabilidade seja reduzida, abre-se espaço para fazer novos investimentos, pois a garantia de rentabilidade mínima por longos períodos é maior. Assim, esse tipo de análise se assemelha à uma das máximas de quem investe em ações… Esperar oportunidades de compra e venda podem fazer com que os ganhos financeiros sejam muito, muito acima do que se planeja em uma renda fixa.
Para aquele investidor que compra os títulos e espera resgatar somente no investimento, pouco importa se a taxa de juros subiu ou caiu. O que ele quer é a rentabilidade contratada. (Por isso a importância de somente comprar títulos quando a rentabilidade contratada for satisfatória, se o objetivo for mesmo de longo prazo).
Estamos falando de rentabilidades de 50%, 80% em até 12 meses.
E antes que você pense que leu errado, afirmamos. É isso mesmo. Em 12 meses, rentabilidades “inacreditáveis”. Esse é um dado histórico que pode ser facilmente comprovado em pesquisas,no Google, por exemplo.
Terminamos aqui nossa publicação, esperando que tenhamos conseguido nosso objetivo inicial:
Alertar para o perigo de decisões financeiras tomadas por impulso sem o conhecimento das regras dos investimentos aos quais as pessoas aceitam colocar seu dinheiro.
E, mais que isso, despertar nas pessoas o interesse em investir em renda fixa, com um valor mínimo assegurado, podendo ainda “turbinar os resultados” e antecipar algumas conquistas financeiras.
Se você quiser ajuda profissional para ajudá-lo em suas decisões financeiras, mande um e-mail pra gente ou deixe aqui um comentário que nós iremos entrar em contato
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